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prosa com poeta: Izabel Cristina Marson

professora, Mulher!, escritora e amante da literatura, Izabel é mais do que tudo uma heroína ativista que andou por 45 cidades pra lutar pela lei anti-fracking contra as mineradoras que querem explorar gás do xisto.

Vitor: o começo de toda pessoa é uma família, ou seria bom que fosse, não importa a forma. o que é uma família?

Izabel: a família pra mim, na minha infância, ela foi uma referência de vida ideal, vida no campo, o sentimento de vida comunitária, de equilíbrio. mas no final da minha adolescência, na minha juventude, eu fui notando que como o Brasil a minha família tinha traços de corrupção. então quando vejo a história do Brasil eu vejo muito a história da minha família. porque eu fui percebendo nesses personagens que estavam perto de mim que nem tudo era flores.


Vitor: você é uma professora. o que é ser uma professora?

Izabel: com o que a gente tem observado de gente alucinada que chega ao poder, a figura do professor ela tem sido vilipendiada, sofrido ameaças, tentativas de destruição, de perseguição. porque é o professor que fala claramente pra sociedade como as coisas são e como as coisas foram e ele repensa a sociedade, a reorganiza através do conhecimento científico fruto da pesquisa de outros. então destruir a figura do professor, que é o grande mote hoje em dia, é necessário pra você implementar ideias ruins pra humanidade. porque a escola é o lugar onde você consegue mudar as pessoas. quantos alunos que chegam pra nós e falam que não tem rumo, que eles não sabem o que querem e quando terminam o curso com a gente eles têm muito definido como querem servir à comunidade, em qual profissão, fazendo o que. então o professor é esse vento ao contrário do fascismo. o que que me preocupa? a quantidade de pessoas que estão ascendendo ao poder - isso vai do EUA, chegando à Colombia, chegando ao Brasil - de pensamentos alienados, que tão tentando impor bandeiras que vão desde a Terra plana até a catequização de indígenas. isso é exatamente a pauta contrária do que é ser professor. então eu acho que ser professor hoje em dia é, antes de tudo, manter a calma e não perder os livros de vista.


Vitor: estamos falando sobre a questão indígena, a catequização e a evangelização. você como mulher feminista, como vê o feminismo hoje em dia? Izabel: eu nunca adotei o feminismo radical. acho que são raras, infelizmente, as figuras masculinas hoje que estão dispostos a fazer um mundo, ou um outro mundo possível ao lado das mulheres. mas o feminismo radical é um feminismo que aparta, que separa. então você que é meu amigo e está aqui conversando comigo eu aparto você do meu discurso. nunca fui a favor disso. por outro lado o feminismo pode estar presente na mente de uma mulher camponesa que nunca leu Simone di Beauvoir. porque o pensamento feminista ele é bem isso de a mulher ter um lugar na sociedade. essas pautas colocadas no Brasil nessa última década e meia, junta com outras pautas como a questão do preconceito racial, dos direitos da comunidade LGBT, as cotas raciais, as cotas indígenas. e eu não vejo, infelizmente, essa pauta do feminismo e outras pautas dos excluídos como tendo sido bem trabalhadas com a população. quando você pensa que a população não tem clareza pra entender que foram ampliadas milhares de vagas nas universidades para que houvessem vagas para indígenas, pra negros e para alunos de escola pública, você vê o qual mal informada a população foi pelos próprios idealizadores dos projetos. o feminismo também carece disso. então o feminismo é ligado a muita coisa que ele não é. por exemplo: a Izabel usa batom, a Izabel tem uma casa organizada, a Izabel tem a vida organizada. não é o que se espera de quem pratica o feminismo. foi atribuído ao feminismo uma agressividade que não faz parte do movimento e isso não foi bom, porque muita gente que deveria ter aderido ao feminismo não radical, por exemplo, não aderiu. porque foi informado por fake news e não por coletivos que deveriam ter sido criados por todos os cantos do mundo. Vitor: e a representação da ministra da mulher?

Izabel: ela é uma ministra que tem um discurso de alucinação. no Brasil é muito comum as religiões terem discursos alucinados e serem vividas como uma tentativa vazia de trazer a bíblia pro tempo atual, coisa que não é possível. a bíblia é um documento histórico e eu a respeito pela minha religião e posso até falar pra você geograficamente de Moisés atravessando o deserto pra gente entender o texto do Moacyr Scliar, mas ela me serve como documento geográfico, histórico e até literário. "cântico dos cânticos" é literatura de qualidade. é assim que vejo a bíblia. é um documento que teve seu tempo e ainda tem, mas que não pode ser imposto, pois quando você impõe a bíblia pra um indígena você está ignorando a religião dele e isso já se fez na África e a gente sabe o resultado. então o mais assustador dessa ministra é que ela vem com uma pauta falida e ela diz que isso vai resolver os nossos problemas. não vai. você vai ter um acirramento do apartheid que já existe. porque, não me lembro o nome da pesquisadora, mas ela diz assim: "o AI5 nunca acabou para os pobres, nunca acabou pros negros". também nunca acabou pros indígenas. ele sempre aconteceu neste Brasil profundo, em morros do Rio de Janeiro, em morros de São Paulo, onde as pessoas foram sendo mortas esses anos todos e não havia o que impedisse governo após governo. então uma mudança profunda não é o que essa ministra propõe. o pensamento dela é perigoso e é um pensamento alucinado. Vitor: é bastante claro que onde há povos indígenas ocupando terras há muito tempo, essas terras não foram exploradas, pois os índios acabam cuidando da natureza de onde eles vivem. você lutou pela questão do não-fracking e conquistou vitórias. as vitórias são sempre temporais, mas você e outras pessoas conseguiram. você foi uma líder desse movimento pela votação do não francking em muitas câmaras municipais da região. a maioria das pessoas não sabem o que é o fracking no Brasil. a gente vê no discurso do Bolsonaro que a questão pelas terras indígenas é muito pelas riquezas que existem nessas terras. o que é o fracking?

Izabel: em 1970 nos EUA eles foram adaptando uma técnica de perfuração de subsolo onde você coloca várias tubulações de metal e você consegue extrair gás. por exemplo: a região de Cornélio Procópio tem gás de xisto. xisto é a rocha. você tem que triturar a rocha, fraturas a rocha pra esse gás escapar, daí ele entra dentro de uma tubulação perfurada e como todo gás, sobe. ele vai subir pra superfície. eles fazem pra essa extração buracos de aproximadamente 1500 metros de profundidade. lá embaixo eles abrem uma teia de aranha como se fosse um queijo suíço pra todo quanto é lado e vão fraturando a rocha. ali eles jogam milhões de litros de água, toneladas de areia, de 600 a 700 tipos de produtos químicos pra extrair esse gás de xisto. acontece que o gás de xisto está abaixo do lençol freático onde está nossa água. então quando você tira esse gás venenoso da rocha, esse gás vai contaminar o lençol freático e a população fica sem água. na década de 70 eles aperfeiçoaram essa técnica, transformaram em algo muito mais agressivo do que a ideia inicial e criaram caminhões chamados "caminhão vibrose" que eles conseguem fazer uma prospecção do subsolo e saber onde você tem micro-trincas nas placas tectônicas e por ali eles vão fazendo a perfuração e retirando o gás de áreas profundas. isso causa pra região: contaminação total da água; contaminação do aquífero guarani que está em risco por causa do fracking; contaminação permanente do solo por causa dos produtos químicos que deixam a terra infértil por 80, 90 anos. Argentina tem três regiões: Neuquén, Vaca Muerta e Rio Negro. Neuquén é a região do Papa Francisco e ali você tem as plantações de maçã. a maçã que a gente tá comendo no Brasil é uma maçã do Chile, porque a maçã da Argentina tá escura, tem manchas, é a água do fracking que foi matando as plantações. então você olha fotos da Argentina e as plantações tão secas, esturricadas, parece que passou fogo e no meio das plantações você tem usina de fracking. agora, não bastasse acabar com as plantações de maçã, o fracking está atacando a região de Mendoza, na Argentina, que é onde você tem os vinhos e as parreiras. a industria a mineração ela ataca o subsolo, causa tremor, acomodação de terra, a população fica sem água e como consequência você vai ter despovoamento e desertificação. essa história não é nova. isso foi o que se fez com equipamentos menos modernos na África. a África tinha mata, tinha savana, tinha água, tinha religiões, tinha gente, tinha tudo. então primeiro a gente escraviza esse povo, a gente diz que por eles serem negros serão trazidos pra América pra trabalhar. quando a gente desertificar esse lugar e despovoar a gente começa a tirar ouro, diamante e tudo que tiver ali. o que foi posto pra África do século XIX e pro século XX é o que tá posto pra América do Trump, do Bolsonaro, do Macri para o século XXI. nós somos a África hoje. a gravidade do fracking é que ele é o eixo que vem pra uma região via mineradora pra comprar blocos, que são grandes territórios de terra, e aí a população não é mais dona, porque a mineradora passa a ser dona do subsolo e as pessoas tem que sair dali. então desertificação, despovoamento e destruição total do meio ambiente é o que tá posto pra nós quando a gente pensa no fracking. por isso a gente fez essa luta na região toda, pois a gente precisava proteger os municípios com projetos de lei, pras mineradoras não atacarem a região.


Vitor: você postou algumas coisas sobre o Mujica citando a relação dele com as mineradoras. hoje, como sempre foi, as pessoas elegem seus heróis. me incomoda muito as pessoas tirarem fotos com a Manuela D'ávila, com o Lula, com o Bolsonaro, com Sergio Moro, com Haddad e ficarem postando elegendo essas pessoas como verdadeiros heróis e heroínas. o que são os heróis?

Izabel: uma vez fiz um projeto na escola, um projeto longo de seis meses que era pra um trabalho de um curso superior e a minha pergunta para os alunos é "o que era herói?", eu queria saber o que um aluno de 15 anos entendia como a figura de um herói. o primeiro material que trabalhei com a turma foi o Panteão da Pátria que está em Brasília. em Brasília você tem um monumento e você tem desde Zumbi dos Palmares a outros nomes, acho que até Leonel Brizola, Duque de Caxias, Benjamin Constant, como heróis da pátria. de tempos em tempos são acrescidos nomes ao Panteão da Pátria. aí eu descobri que nosso aluno de 15 anos do primeiro ano do ensino médio ele acha que herói é um homem que foi a guerra e matou outros homens. eu gostei muito das respostas dos meus alunos porque é isso que é o conceito de heróis pra nós. o herói na América Latina é aquele que foi à guerra e venceu. mas como que você pergunta isso pro aluno e deixa ele pensar isso? você não deixa, você é professor, tá aí a função do professor. me lembro que pra esse projeto levei pra sala de aula um texto sobre a história da África da Wangari Maathai. ela foi prêmio Nobel em 2004 porque ela replantou as árvores do Quênia, milhares de árvores, juntamente com mulheres quenianas e foi a Wangari Maathai que criou uma técnica de proteção e umidade pra raiz da árvore que plantava no deserto - sabe o deserto que foi lá e extraiu tudo do subsolo da África e largou o nada?. a Wangari foi plantar árvore nisso e ela ganhou o Nobel da Paz. quando eu li o texto da história da Wangari Maathai pra essa turma, uma aluna disso uma coisa que foi fundamental para aquila dar certo. ela disse assim: "ah, a Wangari não é heroína. ela é uma ativista". daí eu perguntei se ativista era uma coisa boa e ela respondeu "sim". "e o herói?". ela respondeu que não. então o problema do herói é que você tem, às vezes, a mídia. você pensa assim: o Lula é uma construção da mídia, mas ele também foi uma desconstrução dela. porque tudo que você constrói pela mídia é na mão dela que esse mito fica. quando esse candidato a presidência que se intitula mito, ele tem por trás uma equipe de marketing que sabe muito bem que o Brasil está esperando outro herói. então se o herói Lula serviu a um grupo, vamos criar o herói mito que sirva ao outro.

Vitor: e o Mujica?

Izabel: falando do Mujica, ele trouxe pro Uruguai. ele abriu a papelada pro fracking e ele liberou o glifosato. o glifosato está na base de todo veneno que se passa na agricultura e isso é terrível, pois eles não precisavam disso lá. então é assim, eu tenho uma árvore aqui em casa que tá com um pulgão porque o vizinho joga o veneno, mata a vaquinha que é aquela besourinha, então eu não tenho mais o inimigo natural pra acabar com o pulgão. quando você cria um herói como o Mujica, ou quando você cria um herói como o Lula, ou quando você cria a ideia de mito que solucionará os problemas da corrupção como foi o caso do Bolsonaro, você tira da comunidade o papel de sociedade civil. e quando você não tem uma sociedade civil organizada e atuando você vai ficar na mão de alguém e esse alguém pode decidir pelo seu bem, como pode decidir pela liberação do glifosato no seu país. então se colocar na mão de outro é sempre um risco para as populações. o que a gente percebeu? a gente percebeu que esses anos do Lula e da Dilma você não teve grandes manifestações do operariado. isso causou a população uma inabilidade de pedir, de reclamar, de ir a rua para e quando 2013 veio, eu olhei as passeatas com muita desconfiança. porque em Cornélio Procópio as pessoas que eu via nas passeatas de 2013 eram a semente do fascismo que brotou e deu flor agora. não eram as pessoas que eu estava acostumada a ver lutando pelos direitos da mulher ou da criança ou dos negros. era uma outra nata da sociedade que eu não sabia muito bem o que queria. era uma manifestação, essa de 2013, que era só pra tirar o pouco que o operário tinha ascendido nos governos Lula e Dilma. que na verdade, eram bons projetos, mas não era o projeto do governo Lula e Dilma, porque o projeto Lula e Dilma era um projeto por espelhamento da ONU. quando você traz um projeto de agricultura familiar da ONU você precisa aplicar esse projeto. a ONU vai mandar observadores pra saber como você aplica e a sua verba pro ano seguinte só vem se você aplicou corretamente. então no governo Lula e Dilma você tinha uma sociedade por espelhamento de projeto da ONU que você via muito claramente nas propagandas do governo, só que o Lula assinou a abertura do fracking. e a Dilma assinou documentos que a agua do fracking, que matou as macieiras lá da Argentina, podia ser limpa com espessante de iogurte. esses documentos estão disponíveis no período dos ministérios do governo Lula e Dilma. então não adianta fazer um governo por espelhamento se você não tem uma mudança no eixo, na estrutura dessa sociedade. porque era um governo de coalisão. havia um acordo com os industriais, havia um acordo com o empresariado e esse acordo ruiu. quando esse acordo ruiu, agora, o que que você tem? você tem a ascenção do ultra neo liberalismo e o ataque maciço das transnacionais. então os cinco ou seis bilionários do planeta acham que tem pouco e eles querem mais. então você não pode pensar que governos da América Latina não contribuíram pra isso, porque eles contribuíram e eu não sei até que ponto ou eles nao sabiam ou eles não calculavam cair do poder, mas o que veio é muito mais difícil do que estava posto pra nós na década de 90. o Fernando Henrique Cardoso é um gentleman perto do que a gente vai assistir. e como a figura do herói ela nubla a organização civil a gente vai ter uma dificuldade de organização agora, então a jornada contra o fracking ela foi um convite as comunidades locais organizadas, igrejas, tribos, assentamentos, sindicatos, universidades, de irem às câmaras de vereadores e fazer o seu político fazer o papel dele que é o de proteger água, solo, fauna, flora, vida humana do seu município. então você não vai fazer nada com heróis. você vai fazer alguma coisa organizando a sociedade civil e eu acho muito difícil o Brasil enxergar isso nesse momento. o papel que os voluntários do não fracking fazem do Maranhão ao Rio Grande do Sul é um papel de dizer pra sociedade civil: vocês podem sair de onde vocês estão e irem pedir aos seus políticos do município que não deixem a mineradora vir pra cá. quando você articula a sociedade civil tudo se organiza. a jornada durou um ano, foram mais de 9 mil quilômetros rodados com o meu carro, minha gasolina, meu tempo. foram dezenas de audiências públicas na câmara, sessões, uso da tribuna livre, reunião com vereadores e são 450 vereadores votando não pra mineradora, são mais de 5 mil e 500 pessoas dentro das câmaras de 45 municípios e são 33 partidos políticos que nunca brigaram nem no grupo de whatsapp. porque a política local é diferente da política nacional. a política local é assim: um vereador pode ser de um partido e o outro do outro, mas eles podem ter um sítio um do lado do outro, o vô e a vó deles eram compadres, não sei quem casou com não sei quem. é dessa relação pessoal que nós extraímos uma essência comunitária de amor a suas cidades pra tirar o fracking daqui.


Vitor: pra encerrar, já que é um prazo de prosa com poeta, o que é a literatura na sua vida?

Izabel: a literatura na minha vida ela foi uma frase do Antonio Candido que eu não entendi bem quando eu fiz letras. ele diz assim: "a literatura é salvação". o Antonio Candido ele tem um livro e um vídeo que se chama "direito literatura" onde ele diz assim: "ofereceram aos operários franceses livros que contavam a história do operariado. foi um desastre. pois os operários queriam ler os romances dos russos. queriam ler Tolstoi, Dostoievski". por isso a literatura é salvação. porque quando tudo ruir você vai encontrar respostas na literatura. por exemplo: quando meu irmão cometeu o suicídio e todo mundo entrou em pânico eu me lembro de ter ido pra universidade, olhado a estante de livros e aí peguei dois livros que tinha ouvido falar. "O estrangeiro" de Camus e "Os subterrâneos do vaticano" do André Gide porque eu sabia que os dois livros falava da morte inútil e eu sabia que a morte do meu irmão tinha sido inútil. eu sabia que as razões das pessoas que levaram ele à morte, essas pessoas dormiriam bem. ele tinha perdido a vida. era uma morte inútil. e os dias que se seguiram eu continuei indo pra universidade, estava próximo da minha formatura, eu fui a todos os rituais da minha formatura na universidade e lendo esses dois livros. porque a literatura é salvação. porque quando você não encontrar razão para as coisas, porque quando você não encontrar alguém que te dê uma resposta, quando você não encontrar aquela famosa generosidade brasileira, que na verdade é um mito e não real, você pega um livro e você lê porque ali você vai encontrar respostas, porque o livro e a literatura eles foram e são isso pra mim e eles são isso pra mim na sala de aula. então quando trabalho "Homens e caranguejos" do Josué de Castro na sala de aula, que sei que 70% dos meus alunos moram na periferia, eu sei que no final do processo eles vão entender qual o lugar deles dentro daquela obra e o que aquela obra quer dizer pra eles, como as obras sempre quiseram dizer pra mim. entendo a literatura como salvação e como um direito de todos nós. por isso todos os governos, raras excessões, negam a literatura pra suas populações. porque quem encontra resposta num livro não precisa procurar resposta no whatsapp, nem no facebook, nem no google, nem no mito, nem no herói. você vai encontrar nos personagens que são um pouco de você e um pouco das respostas que você busca na ficção.

Vitor: o leitor ou a leitora, o autor ou a autora, podem ser grandes filhos da puta, mas as obras deles podem ser heróis ou heroínas. Izabel: sim, porque você pensa, por exemplo, o Ernest Hemingway, ele era um grandississimo de um, não vou dizer canalha, mas ele era fora das normas, né? ele vai pra Cuba e leva armas, fica atirando na beira da praia achando que inimigos estão invadindo Cuba. quando ele ia pra Espanha, namorava aquelas mulheres lindas, aquelas atrizes, fazia o papel social do machão, então ele dizia que o homem precisava caçar, matar animais e ele vai pra guerra e volta obcecado pela morte. então eu não posso ler o Hemingway achando que ele matou animais. eu preciso ler o Hemingway entendendo que ali tem um homem que se deparou com a morte na guerra e que volta achando que a morte é banal. então se a banalidade da vida e da morte está posta na obra e eu quero entender isso, preciso ler Hemingway. depois quando ele tira a própria vida eu também preciso entender por que ele fez tudo isso. a guerra é uma coisa que você nunca mais tira da alma de ninguém, nunca mais. então se ele não tivesse ido a guerra ele seria outro Hemingway, mas talvez ele não fosse o herói que ele foi dentro da obra. talvez não tivesse forjado personagens tão fortes, tão marcantes e tão importantes pra todos nós.


Vitor: termino aqui com o poema que fiz pra você.


IZABEL VAI À LUTA!


Izabel é guerreira quando criança pulava fogueira depois que deixou pra trás a infância Izabel foi à luta


Izabel vai a luta! perde batalhas mas nunca desiste cai levanta e canta com a cabeça em riste segue adiante pra próxima briga sem temer gigantes


um dia Izabel cairá e em seu último suspiro suspirará!


mil vidas eu tivesse brasileira eu seria e ao lado do MST eu lutaria!

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